Alô.
Estou perdido na selva.
Acaboclado a céu aberto e impedido
de ver o sol.
A busca pelo topo da montanha
tem sido árdua, os bloqueios constantes
e instantâneos fortalecem as pedras postas
aos meus pés.
Será que tem alguém aí ?
A neblina não mais me deixa ver
a pureza do cérebro e a meia camada de
amor que envolve os corações.
É onça pra todo lado.
Bebendo da impotável água que me oferecem
consigo ingerir a comida pútrida
que me obrigam a mastigar.
Com negras panteras aos meus ouvidos
consigo notar a precoce morte das flores,
por conta do ar vaporoso e impenetrável,
elas não conseguiram desabrochar.
Os leões calmos e calculistas souberam romper
os cactos, jogar os espinhos para traz e
conquistar a tão sonhada montanha, antes de mim.
Lá, eles poderão ver o orvalho surgido nas
folhas e a luz imergindo do mar.
Eu? Eu pisei nos espinhos com medo
de me esguichar.
Mas vou andando.
Depois de provar das correntezas de
inteligência, abro minhas asas e tomo um
pouco do vento de astúcia. Reacordo e
vejo que continuo sendo uma garça preta, pálida,
sensata, curada e com alma de leão pronta para
voar ao encontro do sol.
João Victor Silper
07.03.2011